Carta Pré-Fórum Social Pan-Amazônico
Altamira, Pará, Brasil, 25 de Novembro de 2016.
Nós, Frente Brasil Popular, Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira Campo e Cidade MMTA-CC, Frente Povo Sem Medo, Casa de Educação Popular – CEP, Movimento de Ocupação (UFPA e UEPA), ARCARFAR, Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará – Altamira – SINTEPP, Movimento Território Livre, Movimento Quilombola (Porto de Moz), Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – STTRs, Coletivo de Mulheres do Xingu, Movimento de Mulheres Negras – MMN, Associação Indígena Tyoporemô, AERIM “Comunidade Bem Bom”, Centro deFormação do Negro(a) da Transamazônica e Xingu – CFNTX, Associação dos Moradores do Riozinho do Anfrízio -Amora, Movimento Xingu Vivo para Sempre, Levante Popular da Juventude, Movimento dos Atingidos por Barragem– MAB, Fundação Viver Produzir e Preservar – FVPP, Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – SDDH, representantes dos pescadores e pescadoras do Xingu, representantes dos ribeirinhos, dos extrativistas, coletores de sementes da floresta e outros participantes do Pré-Fórum Pan-AmazônicoTerritórios e Identidades: os impactos dos grandes projetos na Transamazônica\Xingu e a resistência dos povos,com o patrocínio do Fundo DEMA, ocorrido no dia 25 de novembro de 2016, na cidade de Altamira, região oeste do Pará, Brasil, durante o período de ocupação da Universidade Federal do Pará no auditório da mesma, discutimos as questões pertinentes aos eixos temáticos norteadores do evento em grupos de trabalho (GTs) sendo eles: Território, Terra e Identidades; Mulheres, Democracia e Poder; Impacto dos grandes projetos na Amazônia e Politica Educacional diferenciada para a Amazônia.
Em processo bastanteavançadoda globalização financiada pelo capital nacional e internacional, que suga principalmente os países de terceiro mundo, estão sendo implantados projetos como hidrelétricas,rodovias,portos,monoculturasque servem principalmente ao agronegócio e mineração, e que deixam de herança a destruição da fauna e flora, aumento das mudanças climáticas que tem ocasionado catástrofes ao redor do mundo.Esses projetos são insustentáveis e não produzem energialimpa e tão pouco desenvolvimento sustentável, pois, degrada e destrói grandes porções de floresta tropical,muda o curso de rios eliminando assim a biodinâmica existente e diminuindo drasticamente a biodiversidade e influenciando negativamente na qualidade de vida dos povos e populações locais.
Pensando na Amazônia como a região de maior biodiversidade do planeta, fonte de recursos naturais e riquezas culturais de povos tradicionais com relações de pertencimento e identificação com a terra, floresta e rios, os quais, estão sofrendo pressões e ameaça a cultura, ao modo de vida, a destruição e extinção de fauna e flora endêmica.
Mega projetos pensados para a Amazônia nesta perspectiva nos permite reflexões profundas acerca da perversidade da globalização que vem sendo desenhada, cuja suas basesem planos neodesenvolvimentista com impactos aos direitos humanos e ambientais. Atendem às imposições nacionais e internacionais de grupos políticos e econômicos, caracterizados pela maximização de lucros e pela falta de interesse na construção de politicas de desenvolvimentosustentável que garantam equilíbrio cultural, ambiental, social e econômico. Inclui-se também o não cumprimento de leis e acordos internacionais direcionados às populações indígenas e tradicionais.
A região da Rodovia Transamazônica e MédioXingu, parte importante da Amazônia, abriga hoje a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal, a UHE Belo Monte. Embora o programa se auto intitule como positivo para o país e sua população, o crescimento econômico não vem sendo sinônimo de progresso e de melhoria de vida para as pessoas, o CHE Belo Monte trouxe consigo perseguiçõespolíticas, militarização, intimidação, assassinato, espionagem, perda da identidadesociocultural,desterritorialização, além de doenças físicas e psicológicas. Infelizmente se intensificaem víeis politico, jurídico e econômico. O atual reflexo do modelo de desenvolvimento imposto para a Amazônia e seus povos pode ser compreendido a partir de três palavras: genocídio, etnocídio e ecocídio. Por exemplo, no município de Altamira, Procuradores da República concluíram que Belo Monte promoveu a destruição da organização social, de costumes, línguas e tradições indígenas, por ser uma obra que, com aval do estado brasileiro, descumpre licenciamentos ambientais emitidos pelos órgãos competentes, além disso, viola direitos das mulheres, crianças, adolescentes e juventude, porque após a implantação do projeto estes grupos sociais mais vulneráveis, se tornaram vitimas constantes da violência, abusos sexual, aliciamento e do tráfico de drogas devido ao inchaço populacional impulsionando pela construção da barragem de Belo Monte e a não estruturação dos municípios afetados fragilizando os tecidos sociais locais.
Os diálogos focalizaram a necessidade e a obrigatoriedade do estado brasileiro de reconhecer a diversidade como elemento fundamental aunidade nacional e destacou a importância da ampliação dos espaços de luta e organização social,como forma de intervir de forma organizada no estado pela garantia depolíticas públicas e recursos quefavoreçam a implementação de uma proposta educativa diferenciada-condição indiscutível para atender as necessidades formativas da população que habita a região. Assim como, que se faça cumprir a legislação existente e que envolva a temática, resultantes das lutas do povo organizado. Após amplos debates, a plenária a partir dos GTs formulou as seguintes proposições e propostas assumidas como plataformas para apresentação no VIII Fórum Social Pan-Amazônico – O Chamado do Bosque, que será realizado de 28de abril a 01 de maio de 2017, na cidade de Tarapoto, no Peru:
- Cobrar do Estado à redefinição e reconhecimento de alguns territórios e que reestruture o INCRA, pois este atualmente não tem aparato suficiente para organizar e adaptar políticas territoriais sem a participação da população;
- Garantir a participação da população no processo de definição de territórios, proporcionando o diálogo entre os moradores locais e as instituições do Estado;
- Fortalecer a luta da Aliança dos Rios da Amazônia e da Pan-Amazônia pelo reconhecimento da identidade, diversidade, ancestralidade, autonomia e pertencimento dos territórios e soberania Amazônica.
- Que o Estado Brasileiro seja responsabilizado pelo etnocídio dos povos indígenas do Xingu com o CHE Belo Monte e de todos os povos indígenas que receberam de forma arbitrária a implantação de hidrelétricas;
- Fortalecer a luta dos povos do Tapajós contra a construção do Complexo Hidrelétrico Tapajós;
- Promover campanhas sobre a energia solar junto com as comunidades tradicionais e indígenas, na área urbana e rural, para que seja feita a mudança urgente da política de matriz energética na região Amazônica, se contraponto a atual politica da matriz energética dos governos para que não se construa mais nenhuma hidrelétrica nos rios da Amazônia ouvindo e respeitando os povos.
- Lutar para que os recursos advindos dos royalties de Belo Montesejam distribuídos para a população e não para as prefeituras.
- Que os movimentos e organizações sociais apresentem propostas contra os mega projetos de destruição na Amazônia.
- Fortalecer a luta das mulheres, mulheres indígenas, mulheres negras e da juventude na região Amazônica.
- Acompanhar os orçamentos municipais e cobrar a valorização, implementação e incentivo de políticaspúblicas voltadas para as mulheres;
- Acompanhar as estruturas de instrumentos de controle social, como os conselhos de saúde, o conselhos de mulheres, dentre outros;
- Criar GTs específicos sobre saúde, educação e violência exclusivo para as mulheres;
- Fazer uma pauta especifica para as mulheres no Fórum Panamazônico no Peru;
- Organizar atos para cobrar direitos que estão sendo violados ou ignorados pelo Estado.
- Que seja realizado um ato público na Panamazônia exigindo justiça pelo assassinado da liderança indígena Berta de Caceres em Honduras e pelo assassinato de outras lideranças, homens e mulheres, pedindo que o Governo e as corporações sejam responsabilizados.
- Realização de estudos viabilizadores de melhor conhecimento da realidade da região Transamazônica e Xingu referente aos dados populacionais e demandas educacionais, necessários para a elaboração e implementação de propostas educacionais diferenciadas;
- Implementação de propostas diferenciadas de formação de educadores e educadoras, condição fundamental para efetivação de práticas educativas e organização diferenciada do trabalho pedagógico nas escolas;
- Criar comitês de Educação- Necessários para que a população possa obter maiores esclarecimentos acerca dos processos de utilização dos recursos públicos gerenciados pelas secretarias estaduais e municipais de Educação diante da falta de prestação de contas, do volume de recursos recebidos e das condições precárias de oferta do ensino público, sobretudo no campo;
- Exigir do poder público maiores investimentos para a construção de escolas de qualidade e reforma das existentes diante da precariedade em que se encontram a maioria das escolas;
- Garantir acompanhamento permanente dos recursos financeiros destinados á merenda escolar, valorizando a produção agrícola local para melhoria da merenda escolar;
- Fortalecimento e ampliação da pedagogia da alternância, garantindo-se, maiores investimentos para manutenção da Casa Familiar Rural, cuja experiência tem sido de grande relevância a educação diferenciada na região;
- Fortalecer e expandir as politicas de incentivo e apoio ao estudante na educação superior, ampliando a quantidade de bolsas permanência, bolsas de pesquisa, a manutenção da casa dos estudantes, para melhor atender as demandas existentes.
- Promover o debate sobre a criação da Universidade Federal do Xingu para melhor atender as demandas por Educação superior na região;
- Lutar pela inclusão dos estudantes da região que estudam, ou estudaram em escolas públicas em cursos, como medicina, fisioterapia, direito e outros.
- Elaboração de recursos didáticos que expressem positivamente em suas linguagens textuais e imagéticas, conquistas, lutas e culturas da Amazônia;
- Garantir a gestão democrática nas escolas públicas, bem como, incentivar a formação e o fortalecimento dos espaços de participação coletiva da comunidade escolar(conselhos escolares, associações de mães/pais e mestres, grêmios estudantes e etc.);
- Fortalecer e ampliar as experiências formativas das CEPs e CFRs, visando formar pessoas críticas na construção um novo modelo de sociedade;
- Propor uma organização curricular e pedagógica diferenciada a fim de reafirmar identidades amazônicas, considerando os diferentes modos de vida e organização da população do campo e da cidade.
“Estamos todos e todas, povos da floresta da região Transamazônica e Xingu na expectativa pela participação no VIII Fórum Social Panamazonico 2017.”
Crédito fotos: Amanda Kássia e Cláudia Medeiros.
Assim assinam a Carta Compromisso as seguintes entidades e órgãos sociais:
Frente Brasil Popular
Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira Campo e Cidade MMTA-CC
Frente Povo Sem Medo
Casa de Educação Popular
Movimento de Ocupação (UFPA e UEPA)
ARCARFAR
Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará – Altamira – SINTEPP
Movimento Território Livre
Movimento Quilombola – Porto de Moz
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – STTRs
Coletivo de Mulheres do Xingu
Movimento de Mulheres Negras
Associação Indígena Tyoporemô
AERIM “Comunidade Bem Bom”
Centro de Formação do Negro(a) da Transamazônica e Xingu – CFNTX
Associação dos Moradores do Riozinho do Anfrízio – Amora
Movimento Xingu Vivo para Sempre
Levante Popular da Juventude
Movimento dos Atingidos por Barragem – MAB
Fundação Viver Produzir e Preservar – FVPP
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – SDDH
Enviado por Antonia Melo